Reunindo coragem para o fim

A experiência mostra que é impossível separar sexo de sentimento em um reencontro. Quando há amor, o sexo nunca é casual. A conseqüência será reacender a chama até então adormecida.

É certeza criar expectativas e se magoar. Os encontros sucessivos não passarão disso. E, caberá a quem realmente ama catar os cacos, revivendo o luto da perda.

Ou seja, sexo casual e reencontro não podem ser comigo. Estou há anos nessa situação e a chance dele me enxergar de uma forma diferente é nula. Mas sei que ele é preparado para os términos. Isso não o abala. Saberá compreender.

Reflexões sobre o Encantado

Eu sinto uma angústia nele sobre sua realização pessoal. Havia uma diferença de estilo de vida do Encantado do passado, que recém conquistou sua independência, e o Encantado maduro, pai, marido, cheio de responsabilidades e preocupações financeiras. Este Encantado vive nostálgico, saudoso de sua vida aos 30 anos. Seu paraíso idílico onde a única preocupação era manter sua emancipação financeira.

Para ele, esta conta não fecha. E mesmo que entenda as mudanças da vida, a insatisfação é presente. Falta aceitar sua nova condição e tirar dela a apreciação. Contemplar a nova vida, buscar nela a satisfação. E aguardar o novo ciclo onde novamente poderá curtir aquilo que o fazia sentir pleno.

Enquanto esta verdade não lhe ocorre, sirvo como fuga. Me encontro neste passado perdido onde estar comigo é viver um pouco a nostalgia. Estou para ele como a bicicleta e os passeios solitários, prazeres ímpares de sua vida. Resido, portanto, na sua satisfação egoísta.

Buscando romper a ilusão

Não me conformo de não poder te ver. Nem te ligar. Ter dias e horários definidos para interagir, trocar.
É uma alienação do que se propõe um relacionamento real. Verdadeiro.
É apenas uma parte do que deveria ser. A parte boa. Mas incompleta, sem a essência.

Não há intimidade, expectativas ou segurança. É um envolvimento com prazo de validade. A questão é: quando termina? Enquanto isso sou tomada de angústia e desesperança. Isso não é saudável. Nem construtivo. Não multiplica, não oferece exemplo ao mundo, não amadurece.

O que eu faço com essa saudade que dói no coração? Com as lembranças a cada instante? E com as inúmeras conversas imaginárias, sorrisos e carinhos que nunca vamos ter?
Está me enlouquecendo. Me tirando do eixo. Quanto menos te tenho, maior fica a carência. E ela muda a forma como enxergamos a realidade. De forma que fico cada vez mais presa a estes sentimentos ruins, mais insegura, mais carente e mais dependente. NÃO! Não quero isso!

Coragem para romper, mulher!
Coragem para mudar!
Coragem para permitir o novo!
Coragem para a fé!

Neblina

Falta clareza aos projetos de longo prazo para minha vida. Nunca as tive.
Como construir uma vida? Vivo a me perguntar. Qual o caminho certo a seguir? Qual passo dou primeiro.

Tantas oportunidades deixei para trás em nome de um sonho. E hoje rumino minha frustração. Estou exatamente onde me movi para estar. Essa é a realidade. Não há muito a fazer, apenas aceitar. É difícil. Mas é o que me resta.

Agora é sonhar novos sonhos e seguir em frente.

O Luto

“Viva o luto!”, um amigo me aconselhou. Temendo fazer dele uma tipoia emocional a partir da sua disposição a oferecer o ombro, resolvi o contrário: dar a volta por cima. Mas como? A falta de clareza explicitou um enorme vazio. A frustração por uma vida sem sentido, sempre focado no outro. Desanquei a procurar Deus e ocupar meu tempo mantendo contato com a espiritualidade. Me afundei na tristeza e na saudade (quanta saudade!), passando o dia na cama, sem fome ou vontades.

Uma leitura foi puxando um áudio que foi puxando um vídeo e, então, terminei o dia determinada a operar uma reforma íntima em prol do meu futuro. Não fazia sentido nutrir uma depressão. Ninguém pertence a ninguém. A vida continua. E para isso, preciso combater alguns defeitos. Um deles minha tolerância e a arrogância. Concluí que o passado deveria morrer e não adiantaria chorar pelo leite derramado, nem defunto enterrado. Puro subterfúgio da mente. Na verdade, senti vergonha do sofrimento, de ser rejeitada, de não me conformar com o término. Escondi a dor, disfarçando com um sorriso nos lábios. Por alguns dias, me tornei a pessoa mais feliz do escritório onde trabalho.

Além da terapia, decidi frequentar um grupo de apoio para dependentes emocionais. Percebi que alguns padrões se repetem nos meus relacionamentos pessoais e desejo sinceramente ter uma convivência mais saudável com as pessoas de agora em diante. Superei a timidez e experimentei minha primeira sessão. Diferente de escrever, onde eu reflito sobre meus pensamentos durante o processo, falar me permitiu entrar em contato com lembranças até então esquecidas.

Ao terminar um namoro anterior, prometi a mim mesma que não repetiria um relacionamento fadado ao fracasso. Comprei um livro de autoajuda para mulheres sofredoras (rsrs), devorando em poucos dias. Mas foi conversando com uma prima que acordei para o perfil errado de homem com quem me relacionava. Havia tanta cumplicidade entre ela e o noivo que passei a observar os dois e guardar como exemplo.

Superei minha própria carência por mais de um ano. Rejeitei todos cujas as características não se enquadravam. E um belo dia meu melhor amigo me pediu em namoro. No fundo eu queria muito! Mas temia em igual intensidade perder essa amizade por futuros problemas conjugais. Foi então que me joguei de cabeça no trabalho, desviando toda a ansiedade que sentia, minha mania de controle e energia para competição no meu ganha pão. Virei uma workaholic. Não tinha hora para sair, levava trabalho para casa e quando não, não desconectava dele. E isso causou um desgaste. Por mais que eu tentasse não falar de trabalho em casa, meus piores ataques de mau-humor tinha origem no estresse causado por isso. Ou seja, mudei o foco da minha mente para preservar o relacionamento, mas acabei levando outros problemas para dentro.

Chegar a esta conclusão me causou um profundo remorso. Sai da sessão lembrando o quanto fui alertada por estar pirando. Como era difícil para ele conviver com altos e baixos e como ficava triste por eu descontar nele todo meu estresse. No princípio, quis ligar e contar a novidade. Mas tive medo de ser desprezada. Depois veio a dor. Aquela escondida. Dor do fracasso, da saudade da companhia, da falta de carinho. Sobraram as lembranças de um luto que precisa ser vivido.

Afogando as mágoas

Às vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Que não me deixa em paz
Quais são as cores e as coisas
Pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?

Hoje tentei ocupar o final do dia com alguma coisa animada que distraísse a minha cabeça. Todos os dias escondo a minha dor nos problemas do trabalho ou em algum assunto pessoal do cotidiano. Foi então que decidi dar um abraço em um amigo do trabalho que festejava sua despedida do escritório em um bar próximo.
Nunca tive apego à bebida, nem gosto. Mas quis afogar as mágoas em um copo de cerveja literalmente, jogando conversa fora. Faz parte da vida conhecer pessoas e permitir as afinidades. Não é algo simples pra mim pela introspecção, mas faço um sincero exercício.
Como sempre, o álcool me debilita e tendo a ficar deprimida. E as lembranças foram ficando fortes. Em um acaso, descobri que meu ex tinha mais de 150 visualizações no tal aplicativo Lulu. A estagiária curiosa deparou-se com a foto dele numa busca que fazia sobre um amigo de mesmo nome.
Enquanto certos homens conhecidos não haviam recebido qualquer menção, ele foi alvo da curiosidade de mais de cem mulheres. Além da sensação de abandono, fui acometida de um ciúme que nunca senti. Minha primeira reação foi entrar no facebook para distrair a mente com as trivialidades das pessoas. Então, o destino novamente agiu me obrigando a ver um comentário dele sobre a beleza das mulheres de uma foto, logo no topo do feed. Como poderia ser se eu restringi a visualização das publicações dele? Considerando que ele nunca havia me exposto a essa situação durante o namoro, entendi que para ele a vida continua, agora, sem censura.
Me senti reduzida em insignificância. Apesar da cabeça rejeitar a dor do abandono, não fui capaz de controlar meu ressentimento. Pensei: “pois todas deveriam saber nesse programinha fofoqueiro que ele ronca, é preguiçoso e ansioso no sexo”. Mas não quis praticar essa maldade. Então lembrei do porquê o escolhi para viver ao meu lado e sobrou uma enorme saudade.
“Você é normal. Viva o luto! Vai passar!”, disse um amigo na tentativa de me consolar.
E cansada de chorar no fim de noite sobre o travesseiro, fui rir no bar. Voltei chorando bêbada. E com a música “Quase um segundo” dos Paralamas na cabeça. Ao menos dessa vez adicionei um ingrediente diferente.