Afogando as mágoas

Às vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Que não me deixa em paz
Quais são as cores e as coisas
Pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?

Hoje tentei ocupar o final do dia com alguma coisa animada que distraísse a minha cabeça. Todos os dias escondo a minha dor nos problemas do trabalho ou em algum assunto pessoal do cotidiano. Foi então que decidi dar um abraço em um amigo do trabalho que festejava sua despedida do escritório em um bar próximo.
Nunca tive apego à bebida, nem gosto. Mas quis afogar as mágoas em um copo de cerveja literalmente, jogando conversa fora. Faz parte da vida conhecer pessoas e permitir as afinidades. Não é algo simples pra mim pela introspecção, mas faço um sincero exercício.
Como sempre, o álcool me debilita e tendo a ficar deprimida. E as lembranças foram ficando fortes. Em um acaso, descobri que meu ex tinha mais de 150 visualizações no tal aplicativo Lulu. A estagiária curiosa deparou-se com a foto dele numa busca que fazia sobre um amigo de mesmo nome.
Enquanto certos homens conhecidos não haviam recebido qualquer menção, ele foi alvo da curiosidade de mais de cem mulheres. Além da sensação de abandono, fui acometida de um ciúme que nunca senti. Minha primeira reação foi entrar no facebook para distrair a mente com as trivialidades das pessoas. Então, o destino novamente agiu me obrigando a ver um comentário dele sobre a beleza das mulheres de uma foto, logo no topo do feed. Como poderia ser se eu restringi a visualização das publicações dele? Considerando que ele nunca havia me exposto a essa situação durante o namoro, entendi que para ele a vida continua, agora, sem censura.
Me senti reduzida em insignificância. Apesar da cabeça rejeitar a dor do abandono, não fui capaz de controlar meu ressentimento. Pensei: “pois todas deveriam saber nesse programinha fofoqueiro que ele ronca, é preguiçoso e ansioso no sexo”. Mas não quis praticar essa maldade. Então lembrei do porquê o escolhi para viver ao meu lado e sobrou uma enorme saudade.
“Você é normal. Viva o luto! Vai passar!”, disse um amigo na tentativa de me consolar.
E cansada de chorar no fim de noite sobre o travesseiro, fui rir no bar. Voltei chorando bêbada. E com a música “Quase um segundo” dos Paralamas na cabeça. Ao menos dessa vez adicionei um ingrediente diferente.

Um pensamento sobre “Afogando as mágoas

  1. Essa música do Herbert devia ser engarrafada e colocada fora do alcance das crianças. Ninguém que a escuta realmente sai impune da tristeza a que é se exposto. Mas talvez exista um antídoto: “Olho nos olhos, quero ver como você faz ao ver que sem você eu vivo bem demais”. É meio uma covardia, Chico contra Herbert. Mas se é guerra, melhor sair vivo dela.

Gostou da narrativa?